quinta-feira, janeiro 18, 2007

Triângulo de Sierpinsky

Ensaio sobre o Triângulo de Sierpinsky como terapia para um fim de semana.
os interessados podem esquissar os seus conhecimentos (aqui) ou (ali)
que eu vou testando uns jogos de luzes na Pirâmide de Sierpinsky.
aceito sugestões para outras cores.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

miguel torga - 100 anos

Miguel Torga
(Poeta e prosador - 1907-1995)

Retrato de Miguel Torga

Nem sempre escrevi que sou intransigente, duro, capaz de uma lógica que toca a desumanidade. (...) Nem sempre admiti que estava irritado com este camarada e aquele amigo. (...) A desgraça é que não me deixam estar só, pensar só, sentir só.

Quando tudo aconteceu

1907: Nasce Adolfo Correia da Rocha em S. Martinho de Anta (distrito de Vila Real). - 1920: Emigra para o Brasil. - 1925: Regressa do Brasil. - 1927: Fundação da "Presença" em que colabora desde o começo. - 1928: Ingressa na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra; Ansiedade, primeiro livro, poesia. - 1930: Deixa a "Presença". - 1931: Pão Ázimo, primeiro livro em prosa. - 1933: Formatura em Medicina. - 1934: A Terceira Voz, prosa; passa a usar o pseudónimo Miguel Torga. - 1936: O outro livro de Job, poesia. - 1937: A Criação do Mundo - Os dois primeiros dias. - 1939: Abertura do consultório médico, em Coimbra. - 1940: Os Bichos. - 1941: Primeiro volume do Diário; Contos da Montanha, que será reeditado no Rio de Janeiro; Terra firme, Mar, primeira obra de teatro. - 1944: Novos Contos da Montanha; Libertação (poesia). - 1945: Vindima, o primeiro romance. - 1947: Sinfonia (teatro). - 1950: Cântico do Homem (poesia); Portugal. - 1954: Penas do Purgatório (poesia) - 1958: Orfeu Rebelde, poesia. - 1965: Poemas Ibéricos. - 1981: Último volume de A Criação do Mundo. - 1993: Último volume do Diário (XVI). - 1995: Morre Adolfo Correia da Rocha.


... S. LEONARDO DE GALAFURA ...
Está o viajante cansado de calcorrear esta região de Lamego. Foi à Senhora dos Remédios, subiu as escadarias recordando o episódio do Veloso nos Lusíadas, visitou a cidade, foi a Salzedas e à Ponte de Ucanha, visitou Balsemão, S. Martinho de Mouros, Armamar e S. João de Tarouca. É tempo de partir para a Régua. Passada a ponte, hesita. Voltar à esquerda e seguir para Mesão Frio ou seguir em frente rumo a Vila Real pela estrada de Santa Marta de Penaguião. A paisagem é impressionante em qualquer dos percursos. Porém, ali à direita, junto ao rio, há uma pequena estrada... e o céu azul convida à aventura. O viajante decide-se pelo desconhecido. Hoje vai a Galafura.

Aquele poema de Torga não lhe saía da cabeça. O autor dos Contos da Montanha nasceu ali ao lado e a sua visão telúrica sempre o impressionara. Algo terá este lugar para tanto ter fascinado o poeta.

A estrada é estreita mas de bom piso. Pelas encostas estendendem-se os vinhedos em socalcos. Impossível não aproveitar os poucos espaços livres nas bermas para parar e encher os olhos com a rudeza trabalhada da paisagem. Chegamos a Galafura. A estrada sobe para o monte e lá no alto espera-o S. Leonardo.
A primeira sensação é de paz, uma paz que brota da rudeza das pedras e do silêncio das cercanias. Uma pequena capela sem pretensões, árvores em torno, granito...Incrustadas em algumas rochas estão placas com textos de Torga sobre Galafura.Não se vê vivalma. O viajante agradece. Nascido na serra e apreciador destes cimos ornados com pequenas capelas que pululam por toda esta região, nunca entendeu a razão por que muitas pessoas insistem em permanecer no betão e não fazem o esforço de libertarem o espírito e subirem ao monte. Mas hoje não está para grandes divagações e, egoisticamente, agradece...

Ao fundo, passada a capela, montes de pedras ornam a esplanada. O viajante aproxima-se e...

" O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir.Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso da natureza. Socalcos que são passadas de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor, pintor ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis da visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta." (Miguel Torga, Diário XII).



Quem melhor do que o poeta poderia descrever este regalo dos sentidos?!
Nas suas vagabundagens pelo país, que se põe cada vez mais bonito para o receber após um longo ano de ausência, o viajante revolta-se por vezes com o desleixo quase atávico que o envergonha, pasma-se frequentemente com as potencialidades inexploradas e a variedade policromática da paisagem portuguesa, com aquela casa de granito ou aquele monte alentejano que, à socapa, irrompe na paisagem e lhe transmite o algo que faltava. S. Leonardo de Galafura é a explosão dos sentidos em que ao arquitecto bastou o arado.Há lugares mágicos em Portugal que teimamos em desconhecer."Só nos é concedida esta vida que temos; e é nela que é preciso procurar o velho paraíso que perdemos."Se algum dia alguém se ufanar, falando-lhe da sua última visita a Paris ou Londres, não tenha pejo em perguntar-lhe: - E você, já foi a S. Leonardo de Galafura?...

Já imaginou o viajante a regalar-se com presunto, caseiro obviamente, e, se estivermos em fins de Verão, um melãozinho casca de carvalho, com pimenta q.b. E uma garrafa de Quinta do Cotto Grande Escolha para regar o repasto... E o Doiro a correr lá ao fundo, cheio de inveja...
Não imagina? Pois, é pena...

adesenhar...................... d:-) hvr - jf